Parece que tudo é fugaz, que nada durará. A imortalidade desvanece-se num moralismo maior que a vida, mas ainda assim tão bonito como a vida o é. Começou por me mutilar, mas quando cheguei ao coração do filme, o filme chegou ao meu, trespassando-o. Uma banda sonora eloquente e que lhe cabe na perfeição, tornam Aleksandra Nikolaevna numa musa sem a marginalizar de exageros e marcas fúteis.
Feito de uma beleza tão pura e súbtil, entendo porque me encantei, mesmo que tão tardiamente por este projecto Russo. Sem recorrer a liberdades de quem conhece o cinema com a palma da mão, Sokurov desfia a sua história num relato sincero e sereno, solidário e imortal. Porque há decididamente uma mortalidade aderente, mas há fôlego do que é eterno, há um descobrir sem esforço do coração e alma humanas sem recorrer ao melancolismo e à extravagância. A solidão e o amor, a perda e mutilação da verdade e da mentira são traços que unem o contorno esotérico de uma obra de arte perfeitamente imperdível.
Александра, Russia, 2008. Realização: Aleksandr Sokurov. Fotografia: Aleksandr Burov. Com: Galina Vishnevskaya, Vasily Shevtsov, Raisa Gichaeva. ****
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