domingo, 9 de dezembro de 2007

The Celestine Prophecy, de Armand Mastroianni

The Celestine Prophecy é um livro magnífico. Li-o recentemente, muito recentemente até, e de certa forma mudou a forma como levo as coincidências e a energia que trago dentro de mim, bem como os pensamentos e os sonhos que tenho. E penso que o facto de ter achado o filme que nele se inspirou uma desilusão, não foi coincidência. Teve a sua razão de ser.

Esta adaptação trazida pela mão de Armand Mastroianni o ano passado, não é uma adaptação fiel do belíssimo livro de James Redfield, mas consegue por demasiadas razões tornar-se num filme que vale a pena ver. Mas essa tentativa penso que só deveria vir a seguir a ser lida a obra, porque esta é quem realmente tem de levar os créditos todos.

Armand Mastroianni desfiou os 100 minutos de filme de uma maneira demasiado despreocupada, onde as situações se tornam pesadas facilmente, e onde a não sucessão lógica das cenas nos leva a torcer o sobrolho, a nós quem lemos a obra de Redfield. Porque a linha narrativa do filme não segue a do livro e isso chega para lhe tirar valor que sobra. Muitos planos foram ridiculamente introduzidos, muitas personagens cruciais esquecidas e se a floresta parece complicada, nem esperem para analisar as sequências por Mastroianni escolhidas.

Desta feita, Mastroianni apenas consegue utilizar uma mão cheia de planos meramente nus de originalidade, perspectivas completamente descabidas do ponto de vista da narração e, como já referi, sequências que em nada entregam respeito ao projecto. Pontos fulcrais acerca da história foram inaceitavelmente deixados de lado e o teor anti-religioso tantas vezes sublinhado no livro completamente ridicularizado.

Mas há ainda coisas que é necessário valorizar nesta adaptação, como as belíssimas paisagens nos planos muito gerais, com o desfiar da energia falada na história genuinamente entregue aos efeitos especiais, mas perfeitamente entregue também. Esses não decepcionam de todo a não ser em certa medida, em inícios do filme.

A entrega do papel de Cardeal Sebastian a Hector Elizondo foi das únicas, se não a única escolha de casting bem feita, pois tanto a da personagem principal, Matthew Settle para o papel de John como a de Annabeth Gish para o de Julia foram escolhas que trouxeram o filme 180 graus abaixo do seu rendimento, ainda que Gish tenha feito a sua performance perfeitamente bem, a sua constituição física em nada tinha que ver com a descrita no livro. Por outro lado a participação do nosso bem Português Joaquim de Almeida suaviza certas vezes o sentimento áspero que a falta de credibilidade de Settle nos entrega, e isso é no mínimo agradável de se sentir, por até agora ter apenas existido um vazio seco e azedo entre mim e Joaquim.

Uma das coisas que eu penso que tenho que deixar bem assente, é que eu sou mais como a música, “I’m a believer”, a que nos cantou a banda Smash Mouth, e por isso acredito que corpos irradiam energia, e que os nossos pensamentos nos podem ditar o nosso destino. E é pela coragem de Mastroianni de adaptar esta obra que eu entrego ainda um sorriso ao filme. Há uma sensibilidade sempre presente, e uma quase suave metáfora envolvente em todos e cada plano que nos suga e imobiliza, ainda que tantas vezes só apeteça pegar no comando e esquecer que foi feita. Mas é uma adaptação que foi importante ser tomada e pegada. E se há mediocridade, nessa mesma mediocridade consegui encontrar um equilíbrio aditivo, uma esperança por assim dizer, e um série de pensamentos profundos.

E eu acredito que isso chega para seguir em frente e aceitar esta adaptação da melhor das formas que se conseguir.

The Celestine Prophecy, USA, 2006. Realização: Armand Mastroianni. Fotografia: R. Michael Givens. Com: Matthew Settle, Thomas Kretschmann, Sarah Wayne Callies. **

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