Recordo-me que na sua estreia, no final do filme estava um pouco atordoada. Compreendi que novas percepções se abriam, coisas que nunca me tinha apercebido no cinema até aí. Não sei bem se foi com o à vontade com que me sentei num suposto filme para crianças, a na nuvem negra que ficou a pairar sobre a minha cabeça durante os minutos totais do filme.
O projecto de Brad Silberling, adaptação do conjunto de histórias de Daniel Handler, faz-me sempre feliz. Sempre que o vejo há uma luz de presença que se apaga de vez e me enternece. Com um visual completamente eloquente e magnético, Silberling traça um novo género; um rumo depressivo e negro de uma comédia, que é acima de tudo um drama para os mais astutos.
Sentido o seu trago comovente, eu gosto apenas de sorrir. Lembrei-me muito de Tim Burton durante o desfiar de cada imagem, de cada cor, de cada detalhe magistral e estranho. A perda e o crescimento, a percepção de uma moral que não é assim tão crucial, mas leve e estranhamente familiar, fazem-me querer encontrar um mundo assim tão desequilibrado e tão perdido, mas que esconde explosões de cor em cada recanto.
Os símbolos são claros como o filme é negro. O desencanto dos medos esquecidos tornam-se decisivos. Os medos mais obscuros da nossa infância ganham vida, e a única coisa a temer é a continuação não chegar nunca. Pode-se sempre dizer mais, mas aqui para ver é preciso crer.
Lemony Snicket's A Series of Unfortunate Events, USA/Germany, 2004. Realização: Brad Silberling. Fotografia: Emmanuel Lubezki. Com: Jim Carrey, Liam Aiken, Emily Browning, Kara Hoffman, Timothy Spall, Meryl Streep. ****
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