Alpha Dog prometia trazer uma história atractiva e no mínimo curiosa ao recorrer a um elenco júnior que poderíamos eventualmente ver apenas em filmes para adolescentes sem qualquer sentido, mas que foi no entanto muito diferente. A diferença? Ter vindo da mestria do realizador do The Notebook, Nick Cassavetes. E claro pela participação de Bruce Willis e Sharon Stone, como o encaminhar para uma plateia mais lucrativa.
A participação do jovem Emile Hirsch, que veio de um confortável The Girl Next Door, e de Justin Timberlake o cantor do Sexy Back e o autor dos sexy moves do mundo musical, atrairam provavelmente o que se viu ser 80% das audiências mundiais, mas ainda assim nem um nem outro se espalharam ao comprido como eu estava a espera, e isso quase bastou para o filme se tornar um bom filme.
Emile Hirsch é então Johnny Truelove, um drug dealer bastante moderno, inspirado na figura criminosa de Jesse James Hollywood, e filho de Sonny Truelove, interpretado por Bruce Willis. Cassavetes desfia as já esperadas cenas de crimes de uma forma impressionantemente imaginativa, derivado de um argumento que o próprio criou, e que é provocativo e que é bom sê-lo. Truelove, rodeado de amigos que transpiram a já esperada adolescência no seu lado mais puro e contagiante, vai-se metendo aos poucos e poucos numa aventura que vai acabar por julgar se o seu espírito é realmente anárquico ou se é simplesmente uma perseguição infiel dos passos percorridos pelo pai.
Aí entra Jake e Zack Mazursky, dois irmãos que em tudo se diferem e que no entanto é isso mesmo que os une, interpretados belíssimamente por Ben Foster e Anton Yelchin, sendo que Foster me tem impressionado bastante, e onde Zach se torna a única ponte entre uma amizade que foi envenenada pelo dinheiro.
Alpha dog vai percorrendo um lado quase virgem do crime hollywoodesco, onde este é contornado e quase exilado num sentimento humano e de amizade antes que seja atingido um clímax onde normalmente tudo se perde. Alpha dog não segue os contornos e parâmetros normais de um policial ou de um filme de acção, porque se divide em partes meramente fúteis e em partes que contêm a importância do coração humano, sem sequer ser pensada uma mistura dessas partes. Pela primeira vez a vítima passa de vítima a herói no seio da sua própria autonomia. Uma vítima acarinhada pelos seus agressores, que exploram inocentemente o seu interior, que abrem caminhos e portas de auto-conhecimento, e que são experiência no meio de terror, que é acima de tudo camuflado em amizade pura e genuína. E é maioritáriamente tudo isto que faz brilhar Alpha Dog, o contraste de um crime com as cores do amor incondicional e ainda assim tantas vezes condicional da família, da amizade e do preconceito.
Nick Cassavetes largou o salto entre o bom e o mau, e deixou-se cair no abismo esquecido da inocência, do espírito humano e do esquecimento do pulsar negro dentro de nós. E no fim, acorda-nos, para nos deixar bem claro que é um filme que vemos. E isso é realmente o delicioso acerca do filme. Ainda assim não é um filme estrondoso, mas o desfecho torna-o extremamente acarinhável, e quanto a avaliação técnica? Não é preciso. Isso sucumbiu ao maravilhoso plot e ao modo como se desfiou. Mas só para ficar assente não é digno de registo mas é melhor que muitos policiais convencionais que têm passado pelas salas de cinema ultimamente.
"You wanna' know what this is all about? You can say this about drugs or guns or bad decisions, what ever you like. But this whole thing is about parenting. And taking care of your children."
Alpha Dog, USA, 2006. Realização: Nick Cassavetes. Fotografia: Robert Fraisse. Com: Bruce Willis, Emile Hirsch, Justin Timberlake, Anton Yelchin, Ben Foster, Sharon Stone. ****
Alpha Dog, USA, 2006. Realização: Nick Cassavetes. Fotografia: Robert Fraisse. Com: Bruce Willis, Emile Hirsch, Justin Timberlake, Anton Yelchin, Ben Foster, Sharon Stone. ****
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