quinta-feira, 4 de outubro de 2007

1408, de Mikael Håfström

John Cusack é singular. A particularidade da sua representação é o facto de não ter particularidade alguma, os pólos são opostos, não há um padrão de género de representação e o que esperar é, na medida das coisas, sempre algo alternativo.
Neste cartaz contamos com a presença de Cusack tanto em 1408, saído nos Estados Unidos ainda este ano, como em The Contract de Bruce Beresford estreado já o ano passado, e que só agora nos ocupa as salas de cinema Portuguesas.
Mas falando apenas do que posso avaliar sem dúvidas, falo do thriller psicológico que só Stephen King nos poderia trazer, 1408. Quando as imagens começam a inundar a tela, as atenções dividem-se entre aqueles que conhecem a obra de King e entre aqueles que conhecem a obra por alto, ou que não conhecem de todo.

John Cusack interpreta, nesta adaptação do mestre do terror, Mike Eslin, um escritor de histórias de fantasmas e aparições paranormais, em que a única coisa em que consegue acreditar é em si próprio. O seu brutal cepticismo é reabastecido pelas buscas que encontram vazios constantemente, e vamos desdobrando cada folha da sua história com paciência redobrada revelando o seu passado e apercebendo-nos do porquê de uma mente estar tão alojada em descrença e conformismo.

Se por um lado o filme poderia ter chegado ao desequilíbrio e a uma teia desinteressante em que o elenco é reduzido a uma pessoa durante quase uma hora e meia, na verdade foi o factor de haver uma só pessoa entregue à claustrofobia sufocante de um quarto de hotel no 14º andar que acabou por entregar um dos melhores feelings que se pode sentir ao ver 1408. A partir do momento em que ele se entrega à loucura, nós à loucura nos entregamos. Às tantas o The Shining e o seu isolado hotel Overlook sucumbem no pânico que o quarto número 1408 do hotel Dolphin da cidade de Nova Iorque grita em cada poro de Eslin, parecendo-se de repente com um motel barato.

Cusack surpreende, e penso que este é um filme que poderá fazer jus à sua imortalização como actor. Por seu lado Samuel L. Jackson é o toque de midas que torna a prata em ouro, e isto porque sendo tão poucas as cenas em que faz a sua aparência, e essas em relutante ordem de seguimento, torna-se crucial para o jogo claustrofóbico começar, e com ele o plot assustador. Antes disso nada no filme de Mikael Håfström assusta. Jackson acaba por mais do que informar Eslin das forças maléficas que existem no quarto, convence-nos também a nós expectadores que cenas muito maléficas vão aparecer aos molhos aí por diante.
Provindo de uma história curta de Stephen King, Håfström fez a meu ver um excelente trabalho em tornar um história de pequena a um filme de 94 minutos muito bem estruturados. Para além de se ter esmerado numa realização que a meu ver quase não tem falhas, apercebeu-se que um trabalho de terror para ser bom não há uma necessidade de cenas gore e sangrentas, ou de monstros on-camera e close-ups desnecessários que tanto são empregues nos últimos filmes de terror que tenho visto. Novamente, desnecessariamente.

A única coisa a apontar a meu ver é que o sentimento que penso Håfström quis alternar constantemente, aquele da vida após a morte ou de espectros presos e destinados a amaldiçoar o lugar da morte, esse sentimento não colou da maneira que penso que ele queria que colasse. Não magoa o filme de todo, mas por outro lado não ficamos a pensar no filme de uma maneira especial, como se houvesse uma moral fundamental e importante. Neste filme há uma vertigem e claustrofobia constantes, o esgar de medo que quase magoa os maxilares e uma respiração sustida a cada segundo que se ouve mais do que o gravador de Eslin a gravar.

"No one lasts more than an hour."


1408, USA, 2007. Realização: Mikael Håfström. Fotografia: Benoît Delhomme. Com: John Cusack, Samuel L. Jackson. ***

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