quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Por vezes o cinema aprisiona-me. E aliás, aprisionamento no cinema é das coisas mais poderosas de todas; muitas vezes até coisas plásticas e frias me consomem, não me deixam fugir. Feita das escamas que sou, as camadas que vou tentando arrancar e colar com o tempo que passa, e com as descobertas de mim que faço, desfaço, engulo, o cinema vai ganhando forma, vai-se tornando mais que arte, necessidade, um sonho que se repete, uma aprendizagem louca e severa.

Mas falava eu de aprisionamento. Quando algo me aprisiona, uma cena, um frame, uma única fotografia, não os deixo partir. Seguro sem saber para onde me virar, junto ao peito. Secalhar é simplesmente uma paixão enorme pela tranquilidade, pela não limitação, pela autoria, pela organização que advém da arte. Talvez seja muito mais que isso. Mas quando penso no que o cinema significa, ou não significa, ou surge tudo ou o nada. Porque sou consumida, aprisionada nas garras da cor, do som, da textura, do enquadramento. Da imagem mais pura ou tosca, do sentimento mais eloquente. Da vertigem dos fragmentos desgastados mas renovados em vida e morte, em explosão e vazio.

Quando a prisão é negra e escura, penso no poder do cinema. E a lente surge, a comover-me, a sugar-me. E sou eu.

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