terça-feira, 19 de agosto de 2008

"The freedom and simply beauty is too good to pass up"

Quando a essência da alma humana cabe na palma de uma única mão, o cinema torna-se transcendental. Do ponto de vista de quem desfia o cinema sem preocupações, Into the Wild é um filme portentoso, mas para quem traz em si uma quase necessidade de que haja cinema, é uma obra onírica, única, utópica. Não sei bem porque cheguei sequer a desconfiar, Emile Hirsch conseguiu marcar-me significativamente na pequena comédia romântica, The Girl Next Door, e no filme de Cassavetes, Alpha Dog. Mas acabou por me aniquilar completamente, as cenas finais do projecto de Sean Penn, alinhadas à gloriosa razão, a verdadeira, para a criação de um projecto desta envergadura, arrepiaram e congelaram Into the Wild no tempo, para ficar. 

Completamente estarrecida, e maravilhada com a banda sonora de Eddie Vader, magistralmente distribuída nos supremos momentos, encolhi-me em fantasmas, deixei desfiar um dos melhores filmes recentes, cujo retrato é a loucura do sonho, o abismo do medo e o contraste da coragem. A aceitação da solidão como forma de sentir a vibe mais pura; mas não, as coisas mais valiosas são passadas e partilhadas, com alguém. 

Into the Wild é assim a conformação, a ultrapassagem de limites que se tornam transparentes, a mutilação constante de estereótipos. É a celebração de uma largada selvagem, de auto-conhecimento, de respeito e sofrimento prematuro, mas felicidade pura. 

Sean Penn, sem dar margem a questionar as decisões de Christopher McCandless, sem o transfigurar em algo derradeiro, suspira uma beleza legítima e sincera de uma alma que se perdeu sozinha mas encontrou o fim do mundo pela mão de quem o acolheu no seu estado e graça mais genuínos. 

É um retrato extraordinário, magicamente construído, e imperdível.

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