terça-feira, 18 de março de 2008

Sukkar banat, de Nadine Labaki



Caramel relembrou-me que o cinema também é bonito simples, como a vida o é. Não há acerca de Caramel um único ponto que necessite tradução, há uma canção realista e uma mensagem genuína, e isso é a tudo o que Caramel se resume.

Um vaivém diário de vidas que se cruzam e, como as nossas, chocam umas com as outras sem que por vezes haja uma percepção disso mesmo, pelo menos instântanea. A construção das personagens não é pesada, na verdade é leve e fá-las resultar logo que surgem ao olhar. São bonitas, as personagens, e sabem-no. Não há esforço, como já disse é genuíno.

Assim Caramel é o relato de muitas vidas como uma só. Um salão de beleza é o limbo onde a narrativa se vai desfiando, e o que cada uma alcança deve-se sobretudo à sinceridade que portam quanto a uma vida que proclamam maior que elas.

Numa rua onde, à partida haverá uma associação à escuridão da violência e da insegurança, do que a mulheres a atravessar a estrada com pernas altas e vestidos pelos joelhos, prontas a dedicar mais um dos seus dias pacíficos na descoberta da beleza, Caramel é bem sucedido a levantar questões que de irónicas se revestem de um toque humorístico fantástico.

Não me cansei nem por um só segundo. Com uma fotografia com um toque que se sente ser pessoal, e que é também extremamente bonita e quente, acabamos por sorrir compulsivamente durante grande parte dos minutos totais do filme. A música desflorou um significado único, e entregou a certeza de que, por vezes, um projecto internacional faz-nos sentir mais em casa do que um projecto nosso. Fico feliz por pensar que o cinema não tem barreiras, desde que tenha coração.


Sukkar banat, France/Lebanon, 2007. Realização: Nadine Labaki. Fotografia: Yves Sehnaoui. Com: Nadine Labaki, Yasmine Elmasri, Joanna Moukarzel. ****

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