sábado, 29 de dezembro de 2007

30 Days of Night, de David Slade

Em 30 Days of Night os vampiros revelam uma faceta mais animalesca, esquecendo o romantismo ao qual progressivamente o grande ecrã nos foi habituando, e fixando-se no mundano e original folclore primitivo do nosferatu, as criaturas da noite. O mais grotesco possível até agora, juntamente com os da saga do 28 days.

Conseguindo ultrapassar o temor que em tempos o próprio drácula estava em posse de oferecer, o bando que se passeia num Alasca nocturno consegue a sua quota parte de êxito, com uma magnífica caracterização de Joe Dunckley, tão habituado a trabalhar com trabalhos de grande envergadura.

Este projecto, produzido por Sam Raimi tinha uma premissa tão prometedora que quase foi impossível não se esperar derrapagens. E quem as esperou não se enganou. O melhor de todos estes minutos de aflição (às tantas não sabemos bem porquê; se pela boa sucessão das coisas, se pela má sucessão que depressa advém) não só chega cedo, como é introdução, mas infelizmente feitas as apresentações das personagens principais a sua aparência torna-se ilusão, escasseia, até desaparecer por completo. Falo claro de Ben Foster, numa magnífica representação.

Sendo mais uma adaptação, desta de uma graphic novel de 2002 da autoria de Steve Niles e Ben Templesmith, o filme de Slade não perde tempo a desenvolver a premissa que empreende (que é talvez o melhor), espremendo-se entre o romance mesquinho entre as personagens principais e cenas de acção que raramente têm êxito. O filme com o tempo vai-se assemelhando mais a um filme de zombies do que propriamente a de criaturas que temem a luz do sol, sendo esse factor com o tempo até esquecido.

O filme falha por muito, mas entretém por tantas outras coisas. Os factos curiosos são preciosos, a falta de luz e a sua intercepção com a realidade geográfica e factual enchem-nos os olhos de expectativa, e se o resto do filme nos desilude fá-lo gradualmente e sem grandes choques.

O elenco é medíocre, mas penso que um melhor só me deixaria ainda mais irritada, porque a liberdade de representação não é muita e sem ela não é fácil nem seguro também avaliar. Ben Foster é o titã de todo o filme, mesmo não sendo uma personagem que a câmara acompanha interminávelmente, é uma presença frucral para o desenvolvimento da acção e não só da acção, do ambiente, do feeling do projecto.

O espaço e o tempo da acção é a novidade que mais arrebata e mais compensa. Mas Slate precariamente o conseguiu manusear.

No entanto a falta de caracterização do ponto de vista do argumento feita aos vampiros foi um ponto a favor, pois mantendo-os longe de se humanizar só os tornou mais convicentes. O que poderia eventualmente ter sido usado ainda mais em favor era a sua ascendência, a razão da sua presença, para além da ausência de luz solar durante 30 dias gelados claro, como se tal não fosse suficiente, e os objectivos que as suas almas primitivas tentavam alcançar. A introdução de um idioma foi, tirando Foster, a parte mais interessante e a que mais valor tem em todo o projecto. O que parece ser uma lingua vinda das florestas profundas da Roménia (digo eu) intensifica o aperto que tem de ficar cada vez que há um vampiro on-screen, ajudando a imortalizá-los.

Assim 30 Days of Night tinha bastante a seu favor para se sobressair um pouco mais. É uma novidade no seu género porque retoma o terror com o instinto e com uma premissa fora do vulgar, mas por outro lado a falta de interesse que as personagens suscitam quase nos obriga ao esquecimento. Só Foster recordo com vivacidade.

Secalhar é injusto tomar o filme assim desta maneira, obrigando-o a ser nada mais nada menos que um melodrama assustador (pouco, mas aceita-se) que nos obriga a ficar em espanto durante quase duas horas inteiras, e sem dar quase ênfase às tentativas feitas e à fé que provavelmente Slade lhe entregou. Mas ainda assim depois de Hard Candy saí desiludida. Gostei como sempre gostei de vampiros, mas não gostei do ponto vista geral. Entreteu mas isso acabou assim que saí da sala. E só me lembrei agora dele porque pensei que já vinha a hora de dar a minha opinião.

David Slade não foi muito longe com esta adaptação, e o que mais me irrita é pensar que
secalhar ele nem queria ir tão longe assim.

"That cold ain't the weather, that's death approaching."


Days of Night, USA, 2007. Realização: David Slade. Fotografia: Jo Willems. Com: Josh Hartnett, Melissa George, Ben Foster, Danny Huston. **

2 comentários:

  1. Como ainda não vi o filme, não vou ler o texto, mas tenho uma certa curiosidade em vê-lo não fosse ele uma adaptação de BD.

    Mas primeiro ainda quero ler o livro de Steve Niles, cuja obra só conheço (acho eu) o "Freaks: No coração da América".

    bj

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  2. _loot_ quando a mim há muitos filmes que ainda tenho de ver, mas verdade diga acho que desisti um pouco de os ter marcado para antes de outros, porque nunca resulta! :P

    Quando estiveres pronto aventura-te. Pode ser que gostes mais do que eu!

    Beijinho :)

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