domingo, 21 de outubro de 2007

Children of the Corn, de Fritz Kiersch


Stephen
é, com quase toda a certeza, o escritor que mais obras tem adaptadas para a grande tela desde sempre. De Carrie, a The Green Mile, até ao mais recente 1408, as suas adaptações dividem-se em adaptações de short stories e de narrativas mais complexas e são (na maioria das vezes) eficazes na sua transformação para argumento.

Children of the Corn, veio alguns anos antes de eu nascer, e desde sempre esteve na minha lista dos must see, pela minha paixão pelo género do terror. Um clássico chamam-lhe alguns; e é um belíssimo clássico acrescento.

A narrativa, feita por um dos miúdos intérpretes, Job, e que tão tristemente constatei que deixou o mundo do cinema alguns anos depois deste Children of the Corn, é passada nos arredores e na rural vila Gatlin, num Nebraska Americano. A chegada de um líder religioso que pouco mais tem que palmo e meio, Isaac, leva as crianças a matar todos os adultos e a enterrá-los nos campos de milho através da palavra de uma entidade, "He Who Walks Behind the Rows". Três anos depois, a pequena vila está entregue a estes pequenos assassinos, e a dois pequenos irmãos, Job e Sarah, que sem nada poderem fazer assistem à morte do pai. Vão ser os únicos que não seguem o ensinamento de Isaac e do seu culto satânico. Sarah por sua vez tem um dom, a arte de prever o futuro através de desenhos a lápis de cera. Deliciosamente petrificante.

Todos que possam vir a perturbar este fenónemo juvenil (todos os adultos, diga-se) são aniquilados por bandos de crianças devotas.

Não há qualquer oportunidade para sentirmos qualquer ligação com qualquer um dos adultos, para de facto amaldiçoarmos Isaac e o seu mais forte seguidor sangrento, Malachai, até ao aparecimento de Burt e Vichy, interpretados por Peter Horton e Linda Hamilton, um casal que se encontra nas imediações e que por alguma razão (clássico!) tem de passar por Gatlin. O restante é uma das mais macabras histórias adaptadas para o grande ecrã.

Ao se aperceberam que algo de muito estranho se estava a passar (ao embaterem no corpo de um míudo que estava já morto alguns minutos antes), são arrastados para a febre, pânico e ironia de tremerem com a presença de meras crianças. Bem, meras facas, e sabres e ganchos de feno também entram.

É bom encontrar filmes que mesmo não se prezando pelo primor fotográfico se tornam filmes que recordamos por anos e que queremos por qualquer razão ter na prateleira. É um filme que é importante ser visto para quem gosta do género mais não seja porque o jovem Malachai (ou seria Courtney Gains?) vale por quase todos os minutos do filme.

Foi delicioso ver Horton a correr por uma vila abandonada perseguido por pequenos demónios ao som da musica estonteante de Jonathan Elias e dos gritos arrepiantes dos "Kill! Kill! Kill!" como compasso.
Alguns efeitos especiais são também dignos de referência porque se não são magníficos são, por outro lado, de uma simplicidade tal que nos faz sorrir e aceitá-los como se proviessem de um qualquer George Lucas. Aparece então a criatura. O chão do milheiral a elevar-se qual toupeira, ou a plantação a oscilar para dar passagem a quem quiser atravessar, e mesmo o céu e as nuvens a metamorfosearem-se em algo demoníaco, dão ao filme o toque necessário para ficarmos satisfeitos com esta adaptação de Fritz Kiersch.

Quanto às interpretações, o melhor para mim foi como já referi a representação de Courtney Gains na pele de Malachai, o tenebroso libertino que se ao início traz uma devoção em si, logo a esquece pela sua sede de sangue e terror. É quase sempre tão eficaz que suspiramos de alívio no final por não haver quase nenhuns erros de casting.

Por sua vez John Franklin como Isaac é bom na medida em que no papel que representa não haver espaço para grandes falhas ou grandes alternativas. Só aquele olhar nos primeiros minutos de filme, chega para o resto. Já os irmãos Job e Sarah são maravilhosos e poderiam ser aspirantes a grandes revelações, mas demonstram também uma certa falta de experiência que algumas vezes magoa o filme. Só mesmo o podemos esquecer pelos papéis que representam.

E por fim o casal é a meu ver a dupla do filme, não porque são de facto um casal mas porque contracenam com um equílibrio que eu nunca vi em mais nenhuma produção até hoje. Estão tão imersos nas suas personagens que oferecem outro valor ao filme. São tão convincentes naquilo que nos dão que vale a pena ver o filme só para os ver contracenar juntos. Muitos dos actores que vemos hoje deveriam ver Children of the Corn e ver se aprendem qualquer coisinha.

O pior? Muito pouco. Há talvez um ou outro buraco que por não ser assim tão grande nos faz ainda baixar os olhos com uma pontada de desilusão; a imagem de Burt a correr desenfreadamente uns quantos quilómetros com uma facada no peito, não me sai da cabeça. Mas não é a razão para exageros.

Era um must see para mim, agora é um must have. Um dos clássicos de terror mais maravilhosos de sempre. Se um low budget consegue fazer isto há 23 anos, como é possível que hoje em dia se façam atrocidades medíocres e inadmissíveis.

Por minha vez, ao menos agora já tenho uma desculpa para não gostar de milho.

"We want to give you Peace."

Children of the Corn, USA, 1984. Realização: Fritz Kiersch. Fotografia: Raoul Lomas. Com: Peter Horton, Linda Hamilton, Courtney Gains, John Franklin. ***

1 comentário:

frames